A Lupo deixa o Brasil após 104 anos de produção industrial no país e passa a operar parte de sua fabricação no Paraguai, em uma decisão diretamente associada às mudanças no ambiente tributário brasileiro. A empresa inaugurou, em junho, uma unidade em Ciudad del Este, depois que a Lei 14.789/2023 elevou o custo efetivo de incentivos fiscais usados por indústrias.
A legislação, sancionada no fim de 2023, encerrou a isenção de tributos federais sobre benefícios concedidos por estados e municípios, como os vinculados ao ICMS. Segundo a companhia, esse novo enquadramento tornou parte da operação no Brasil economicamente inviável, pressionando margens e competitividade.
Mesmo tendo atravessado eventos como a crise de 1929, a Segunda Guerra Mundial, ciclos de hiperinflação e a pandemia, a empresa avaliou que o atual cenário exigia ajustes. Assim, a decisão de deslocar produção marcou uma inflexão histórica na trajetória da marca.
Lupo deixa o Brasil e aposta no Paraguai
Com a mudança, a Lupo deixa o Brasil parcialmente e passa a produzir meias no Paraguai sob o regime de maquila. Esse sistema permite importar insumos com tributação reduzida e focar a produção em exportações, principalmente para o mercado brasileiro.
O investimento supera R$ 30 milhões. A nova fábrica tem capacidade para produzir até 20 milhões de pares por ano e emprega cerca de 110 trabalhadores. Segundo a empresa, a estrutura no Paraguai gera uma redução de custos próxima de 28%, puxada pela menor carga tributária e por regras regulatórias mais simples.
Além disso, a localização em Ciudad del Este, próxima às fronteiras com Brasil e Argentina, reduz custos logísticos e facilita o escoamento da produção. Dados do governo paraguaio indicam que a maior parte das indústrias beneficiadas pela maquila está concentrada no departamento de Alto Paraná.
Lupo deixa o Brasil em reação ao ambiente econômico
A executiva Liliana Aufiero afirmou, em entrevista à Folha de S.Paulo, que a decisão não partiu de uma estratégia voluntária de internacionalização. Segundo ela, o ambiente econômico brasileiro foi determinante para a mudança. A executiva atribuiu o movimento ao peso da carga tributária e à complexidade regulatória.
Nesse contexto, a saída da Lupo do Brasil passa a integrar um debate mais amplo sobre competitividade industrial. A elevação da arrecadação federal, prioridade do governo, acabou gerando efeitos colaterais sobre decisões de investimento produtivo.
Indústria têxtil e o efeito da mudança tributária
O fato de a Lupo deixar o Brasil sinaliza como alterações no marco fiscal podem influenciar a alocação industrial. Embora a operação nacional não tenha sido encerrada, a transferência de parte da produção evidencia uma busca por eficiência fora do país. A tendência, segundo analistas do setor, é que decisões semelhantes continuem sendo avaliadas por empresas expostas a margens apertadas, enquanto o debate sobre competitividade e política industrial segue aberto.











