Uma disputa legal envolvendo o banco Bradesco e a Americanas tem atraído atenção nos últimos dias, à medida que a varejista insinuou a participação do banco em uma fraude relacionada a empresa. No entanto, especialistas do mercado acreditam que essa controvérsia provavelmente não terá impactos significativos na recuperação judicial da Americanas.
O desembargador Ricardo Negrão recusou as acusações contra o Bradesco, sob a justificativa de que foram apresentadas de maneira inadequada, segundo sua avaliação. O documento em questão foi anexado a uma ação já existente, movida pelo próprio Bradesco em janeiro.
De antemão à decisão do desembargador, o Bradesco não poderia ser investigado, uma vez que é o autor da ação original. O objetivo dessa ação é coletar evidências relacionadas ao suposto rombo contábil de R$ 20 bilhões anunciados pela varejista.
A visão dos especialistas
Gustavo Mizrahi, sócio do escritório Vieites Mizrahi Rei Advogados, enfatiza que o processo em andamento tem caráter principalmente investigativo, visando a construção de provas. Ele sugere que a ação busca aproximar a fraude dos acionistas de referência da Americanas, Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira.
No entanto, Grasiele Roque da Silva, especialista do escritório Benício Advogados, considera improvável que o processo de produção de provas seja concluído antes da Assembleia Geral de Credores, o que limitaria sua capacidade de influenciar as condições da recuperação judicial.
É importante notar que a ação movida pelo Bradesco e o processo de recuperação judicial são ações separadas. Respectivamente elas estão correndo em fóruns de São Paulo e do Rio de Janeiro. Portanto, essas disputas legais estão ocorrendo em paralelo no momento.
Thiago Massicano, sócio do Massicano Advogados, destaca que o Bradesco é o maior credor das Americanas, com cerca de R$ 4,8 bilhões a receber. No entanto, ele enfatiza que os acionistas só podem ser implicados na dívida se a participação direta na fraude for comprovada.
Grasiele Roque da Silva explica que, mesmo que o plano de recuperação judicial já tenha sido aprovado, quando a investigação for concluída, ainda será possível utilizar as provas para fundamentar outras ações.
Ações não devem ser afetadas em meio a disputas judiciais
No entanto, analistas financeiros observam que, apesar da cobertura midiática, as recentes notícias sobre a disputa legal não tiveram impacto nas ações das empresas. A maioria dos investidores já incorporou as informações relevantes em suas análises anteriores.
Gabriel Bassotto, analista chefe de ações do Simpla Club, aponta que o Bradesco já reconheceu as provisões necessárias relacionadas a devedores duvidosos no início do ano. No caso da Americanas, a ausência de repercussão se deve à queda acumulada das ações da empresa desde janeiro.