O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva assumiu a presidência do G20, o grupo das 20 maiores economias do mundo, em uma cúpula realizada na capital indiana. Com o poder de pautar discussões globais, Lula destacou a importância da cooperação internacional e definiu as três prioridades da agenda brasileira no G20: combate à desigualdade e à fome, combate à mudança climática e reforma das instituições de governança internacional.
O professor de Relações Internacionais da FGV, Oliver Stuenkel, enfatizou a oportunidade que a presidência do G20 oferece ao Brasil para definir pautas e questões de relevância global. Stuenkel destacou que os países anfitriões geralmente enfatizam tópicos nos quais desejam se destacar internacionalmente. Neste caso, a Índia direcionou o foco para a digitalização, buscando afirmar-se como uma superpotência tecnológica.
Em seu discurso de encerramento da cúpula, Lula ressaltou a gravidade das mudanças climáticas, alertando para uma “emergência climática sem precedentes”. Além disso, anunciou o desejo de ver mais países se juntando ao Conselho de Segurança da ONU e uma maior representatividade das nações em desenvolvimento no Fundo Monetário Internacional (FMI) e no Banco Mundial.
Entretanto, a declaração final da cúpula de Nova Délhi abordou a questão das mudanças climáticas de forma básica, visando agradar tanto aos países que defendem a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis quanto aos grandes produtores de petróleo e carvão, como Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Rússia.
Lula, ao assumir a presidência do G20, deixou claro seu desejo de evitar que “questões geopolíticas sequestrem a agenda” do bloco, sinalizando sua oposição à discussão do conflito na Ucrânia. Ele enfatizou a importância da cooperação global em detrimento de conflitos e anunciou que a próxima cúpula do G20 será realizada em novembro de 2024, no Rio de Janeiro.
Esta declaração ocorre um dia depois de o G20 emitir uma declaração final que evitou condenar a Rússia pela invasão da Ucrânia, refletindo a falta de consenso no bloco sobre o assunto. Enquanto os Estados Unidos e alguns países europeus buscavam a condenação de Moscou, não houve consenso, inclusive sobre a presença da Rússia na cúpula.
O presidente russo, Vladimir Putin, não compareceu à reunião em Nova Délhi, sendo representado por seu ministro das Relações Exteriores, Serguei Lavrov. A declaração do G20 denunciou o uso da força para ganhos territoriais, mas não fez críticas diretas à Rússia pela invasão ocorrida em fevereiro de 2022.
Em entrevista à televisão indiana Firstpost, Lula reiterou sua posição de que a guerra na Ucrânia não deveria fazer parte da agenda do G20, destacando que o foco deve ser questões sociais e econômicas. Ele também afirmou que Vladimir Putin será convidado para a cúpula do G20 no Brasil e que não será preso, apesar do mandado de prisão emitido pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) em março por crimes de guerra.