O mercado manteve um olhar atento sobre o Brasil em 2023. O país encarou o primeiro ano de um governo recém-empossado, além de importantes medidas legislativas e pressões variadas dos setores econômicos. Todos esses fatores marcaram o ano. Agora, resta a questão: o que se pode esperar da economia brasileira em 2024?
Confira as opiniões de conceituados economistas entrevistados pelo Economic News Brasil.
Para o assessor econômico da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC), Lauro Chaves Neto, a reforma tributária é o principal destaque do ano. Ele ressalta que a mudança veio, ainda que tardia, e classificou o sistema tributário de então como um “manicômio”. “Nós tínhamos impostos e excessos, uma complicação tributária, sobreposição e todo tipo de medida que atrapalhava a produtividade da economia brasileira”, declara.
Com a reforma, quatro impostos serão extintos: o Programa de Integração Social (PIS) e a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins), que serão substituídos pela Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), e o Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), administrado pelos estados, e o Imposto sobre Serviços (ISS), arrecadado pelos municípios, cujo Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) os substituirá. Tanto CBS quanto IBS integram o Imposto sobre Valor Agregado (IVA), que é chamado dual por ter arrecadação separada entre União, estados e municípios.
Mesmo com esta medida, ainda há muito o que percorrer, de acordo com Chaves Neto. “Nós precisamos ainda fazer com que a carga tributária brasileira seja reduzida e que cada vez mais se tribute renda, patrimônio, herança e se tribute menos a produção e o consumo. Assim, avançaremos para um IVA nos padrões do que é praticado nos países desenvolvidos”, defende.
Novo arcabouço fiscal
Além da reforma tributária, o Brasil aprovou um novo arcabouço fiscal para reduzir os gastos da União. Para Ricardo Coimbra, conselheiro da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais do Brasil (Apimec), essas medidas indicam um controle macroeconômico da dívida pública a médio e longo prazos. “Assim, gera-se uma perspectiva de, com base em toda essa estruturação macroeconômica, alcançar algo muito próximo de um equilíbrio fiscal já para o ano de 2024”, completa.
A projeção de crescimento de 2,84% do Produto Interno Bruto (PIB) também é um marco positivo. Segundo o conselheiro da Apimec, o mercado estimava que não passaria de 1%. O câmbio também reagiu bem, com a paridade real-dólar abaixo do 5 para 1.
Coimbra ressalta também a diminuição da inflação, que deve fechar o ano abaixo do teto superior da meta, que era de 4,75% – segundo o Boletim Focus, o IPCA, principal índice, fechará em 4,33%. “No início do ano, achávamos que a meta de inflação para 2023 pudesse não ser alcançada, então esse é um aspecto extremamente positivo”, elogia.
Economia no Ceará
Segundo Igor Lucena (foto), presidente do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE), a economia teve resultados positivos em 2023. No entanto, ele ressalta a necessidade de observar os impactos da reforma tributária no setor terciário. “Fizemos uma reforma que melhora muito o setor industrial, mas pode impactar serviços, turismo e comércio. Isso pode ter um impacto negativo sobre o emprego no Ceará”, comenta.
Alex Araujo, ex-Superintendente de Finanças e Mercado de Capitais do Banco do Nordeste (BNB), destaca a recuperação da indústria no Ceará, com um saldo positivo de 2.906 empregos formais até novembro, indicando oportunidades para o fortalecimento do parque industrial local.
Ainda assim, ele chamou atenção para outras dificuldades. “Com o comércio e os serviços como pilares fundamentais, a adaptação a cenários adversos foi crucial para o enfrentamento das adversidades”, analisa. O economista também cita o desemprego de 9,2% no último trimestre como sinal do desempenho mais baixo em relação ao quadro nacional.
O que esperar de 2024
O presidente do Corecon-CE acredita que a meta fiscal continua sendo o principal desafio para 2024. Para Lucena, o Estado ainda peca no investimento de recursos. “Resolver o fiscal não é só aumentar impostos, não é só aumentar cobranças, tem que cortar custos. Mais do que cortar custos é saber como cortar. Ou seja, é ter um spending review, saber quando os programas públicos dão certo e, quando não dão, realocar os recursos da melhor maneira possível”, explicou. Ele também comenta que aumentar a produtividade é uma questão essencial no panorama do próximo ano.
Alex Araujo falou sobre as tendências que vão moldar o cenário de 2024. Dentre elas, está a contínua queda da taxa Selic, que fechou 2023 aos 11,75%, que pode gerar um ambiente mais amigável ao crescimento econômico. O fator climático também promete alterar as dinâmicas da economia em todo o país. O El Niño pode trazer estiagens que afetam a cadeia produtiva, além do impacto nas safras. Para o economista, “além dos desafios para a agricultura e pecuária, a escassez de água pode resultar no aumento dos preços de alimentos, afetando diretamente o bolso dos consumidores e demandando medidas preventivas e estratégias de gestão de recursos”.
Já no cenário externo, as eleições dos Estados Unidos, mudanças no comércio e conflitos internacionais podem reverberar no Brasil, de acordo com Araujo. Ele reflete: “a capacidade de adaptação, a implementação de políticas públicas consistentes e o fomento à inovação serão elementos essenciais para transformar as adversidades em oportunidades e construir um horizonte mais promissor para o Brasil em 2024”.