O Brasil enfrenta um desafio ambiental de grande escala, com mais de 500 espécies exóticas invasoras espalhadas por seu território. Essas espécies incluem animais, plantas e micro-organismos, causando prejuízos econômicos estimados entre US$ 2 e 3 bilhões anuais, totalizando até US$ 105 bilhões entre 1984 e 2019. O impacto é devastador, afetando biodiversidade, agricultura e saúde pública.
Impactos econômicos e a perda de biodiversidade no Brasil
De acordo com a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), as espécies invasoras estão entre as principais causas de perda de biodiversidade no Brasil. Dentre os biomas brasileiros, a Mata Atlântica é a mais prejudicada, enquanto a Amazônia, embora menos afetada, também sofre com invasões. Esses danos incluem prejuízos agrícolas de US$ 28 bilhões e US$ 11 bilhões em perdas relacionadas a doenças transmitidas por vetores, como dengue e malária.
Esses impactos econômicos se refletem também no setor energético: usinas hidrelétricas gastam milhões com limpeza de espécies invasoras, como o mexilhão-dourado. Em Itaipu, por exemplo, os custos diários podem chegar a R$ 5 milhões devido à necessidade de paradas para manutenção das turbinas.
Principais espécies invasoras no Brasil
- Mexilhão-Dourado: Trazido ao Brasil na década de 1990 por meio da água de lastro de navios, o mexilhão-dourado encontrou condições ideais para se proliferar, sem predadores naturais. Hoje, ele afeta regiões do Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste, incluindo a Bacia do Rio São Francisco. Suas colônias obstruem tubulações, sistemas de irrigação e turbinas de usinas hidrelétricas, além de competir com moluscos nativos, reduzindo a biodiversidade e prejudicando a pesca.
- Tucunaré: Nativo das bacias Amazônica e Araguaia-Tocantins, o tucunaré foi introduzido em estados como São Paulo e Minas Gerais para diversificar a fauna local. Contudo, seu caráter predador representa uma ameaça à biodiversidade. Reconhecendo o problema, o Estado de São Paulo incluiu a espécie na lista oficial de exóticas invasoras em 2011.
- Javali: Introduzidos na década de 1960 para criação e caça, os javalis começaram a se espalhar descontroladamente nos anos 1980. Hoje, eles causam sérios danos ambientais e econômicos devido à alta taxa de reprodução e resistência. Seu impacto vai desde a destruição de plantações até a transmissão de doenças.
- Tilápia: Uma das espécies mais comuns em criadouros, a tilápia tem impacto direto na fauna aquática local. Trazida de outras regiões do mundo, ela compete com espécies nativas, alterando ecossistemas e afetando a pesca tradicional.
Caminhos para debater sobre as espécies invasoras
Especialistas apontam que a introdução de espécies invasoras, seja intencional ou acidental, é um dos maiores desafios para a conservação ambiental. A professora Michele Dechoum, da UFSC, alerta que os números podem estar subestimados, ressaltando a necessidade de governança e controle rigoroso.
A COP 30, que será realizada em 2025, no Pará, representa uma oportunidade estratégica para discutir soluções globais. Medidas propostas incluem a regulação do comércio de plantas ornamentais e o controle do transporte de água de lastro por navios, principais vias de entrada de espécies invasoras no Brasil.
Exemplos de sucesso com o uso da tecnologia
Apesar do cenário desafiador, algumas iniciativas mostram resultados positivos. Em usinas menores, por exemplo, investimentos em tecnologias preventivas têm reduzido custos de manutenção. Já em estados como São Paulo, esforços para monitorar espécies como tucunarés e javalis têm ajudado a mitigar os danos.
As espécies exóticas invasoras são uma ameaça persistente para o Brasil, impactando ecossistemas, economia e saúde pública. A adoção de estratégias integradas, somada ao engajamento internacional, é essencial para proteger os biomas do país e evitar que os prejuízos cresçam ainda mais.