A Itália, frequentemente vista como a economia estagnada da Europa, surpreendeu ao se tornar o país de melhor desempenho entre as grandes economias europeias. Nos últimos quatro anos, especialmente nos três meses finais de 2023, o país registrou um crescimento de 4,2% em relação ao quarto trimestre de 2019, antes da pandemia – um feito inigualável por seus pares europeus.
Incentivos fiscais como catalisadores
O “super bônus”, uma política de redução de impostos sobre melhorias residenciais implementada em 2020, desempenhou um papel crucial nesse avanço. Este incentivo levou a um aumento sem precedentes de 30% no investimento, incluindo habitação, em comparação com o final de 2019, superando significativamente o crescimento do investimento em países como França e Reino Unido.
Construção: motor do crescimento na Itália
O setor de construção, energizado pelos incentivos fiscais, foi o principal impulsionador da recuperação econômica italiana. “O crescimento trimestral de 0,2% do PIB no último trimestre foi inteiramente impulsionado pela construção”, afirmou Nicola Nobile, economista da Oxford Economics. Essa tendência contrasta acentuadamente com a estagnação ou recuo observado na produção da construção em outras grandes economias europeias.
Preocupações com a sustentabilidade do crescimento
Economistas alertam para uma possível reversão dessa tendência ascendente à medida que os incentivos fiscais são reduzidos e se tornam mais difíceis de obter. O programa, que inicialmente cobria até 110% das despesas, teve seu desconto reduzido para 90% em 2023 e para 70% a partir de janeiro deste ano, com término previsto para 2025.
Impacto fiscal e desafios de longo prazo
O financiamento do “super bônus” teve um impacto substancial no déficit orçamentário da Itália, que atingiu 7,2% do PIB em 2023, acima da média da zona do euro. Essa questão é particularmente preocupante dado o alto nível de endividamento do país, que equivale a cerca de 140% do PIB. A medida, embora tenha contribuído para a melhoria da eficiência energética e estética das residências, fez pouco para abordar desafios estruturais como baixo crescimento da produtividade e envelhecimento da população.
Perspectivas a longo prazo
Apesar do avanço pós-pandemia, a economia italiana cresceu apenas 9% desde 2000, o que reflete um crescimento inferior ao de outras grandes economias europeias. A Itália enfrenta o desafio de sustentar seu impulso econômico recente enquanto aborda questões estruturais de longo prazo, evidenciando a necessidade de políticas abrangentes que vão além de incentivos fiscais temporários.