A febre das apostas online tem movimentado bilhões de reais no Brasil, mas os números revelam uma realidade preocupante para o apostador brasileiro. De acordo com um estudo conduzido por economistas do Itaú, os brasileiros perderam, no balanço entre vitórias e derrotas, um total de R$ 23,9 bilhões entre junho de 2023 e o mesmo mês de 2024.
A popularidade das apostas online no Brasil disparou nos últimos anos, especialmente após a Copa do Mundo de 2022, onde a exposição midiática das casas de apostas foi intensa. Isso coincidiu com uma mudança na metodologia de registro de transações financeiras pelo Banco Central, o que permitiu uma maior visibilidade sobre o dinheiro movimentado nesse mercado.
Em 2023, o Banco Central passou a classificar as transações relacionadas às apostas como “serviços culturais, pessoais e recreativos” e “renda secundária”, resultando em um aumento expressivo dos valores registrados nessas categorias. Antes dessa mudança, o gasto com esses serviços somava cerca de R$ 3,3 bilhões em um período de 12 meses. Após a nova metodologia, esse valor saltou para impressionantes R$ 47,4 bilhões.
O saldo das apostas online em 2024: perdas bilionárias
De acordo com o estudo do Itaú, os apostadores brasileiros gastaram um total de R$ 68,2 bilhões em apostas e taxas de serviço ao longo de 12 meses, mas receberam de volta apenas R$ 44,3 bilhões em prêmios. Isso resultou em uma perda líquida de R$ 23,9 bilhões, equivalente a 0,2% do PIB brasileiro e 1,9% da massa salarial do período.
Os analistas Luiz Cherman e Pedro Duarte, responsáveis pela pesquisa, explicam que a metodologia adotada pelo Itaú é similar à utilizada em outros mercados internacionais onde as apostas já são reguladas. A taxa de serviço, que gira em torno de 20%, representa a principal fonte de receita dos sites de apostas. Este percentual é deduzido antes de o dinheiro ser distribuído entre os vencedores.
Impacto econômico e social
O impacto das apostas online em 2024 não se limita apenas ao bolso do apostador. A crescente participação das bets no orçamento das famílias brasileiras tem gerado preocupações em diversos setores. Dados do Banco Central indicam que o mercado de apostas já representa uma fatia considerável das transações financeiras internacionais, com remessas de dólares em valores que ultrapassam os R$ 60 bilhões anuais.
Além disso, o relatório aponta que as apostas online já começam a afetar outros segmentos da economia, como o varejo e até mesmo as doações em igrejas evangélicas, que relatam uma queda nas contribuições atribuída ao crescimento das apostas. Segundo um levantamento da Datafolha, cerca de 17% dos beneficiários do Bolsa Família afirmaram já ter feito apostas online, com um terço desses apostadores gastando em média R$ 100 por mês.
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Regulamentação e futuro das apostas no Brasil
A expectativa é que a regulamentação do mercado de apostas, prevista para entrar em vigor em 2025, traga maior controle sobre essas transações, incluindo a arrecadação de impostos. O Ministério da Fazenda já indicou que as casas de apostas precisarão de autorização para operar no Brasil, o que pode impactar significativamente a indústria.
No entanto, a eficácia dessa regulamentação ainda é uma incógnita. Especialistas alertam que a falta de fiscalização e a ausência de um aparato robusto para controlar o crescimento das bets podem dificultar o cumprimento das novas regras.