Publicidade

Estoque de suco de laranja zerado e preços em alta

safra-laranja-pior-historia-pixabay
Estoques de suco laranja encaram pior safra/(Foto: Pixabay/Pexels).
safra-laranja-pior-historia-pixabay
Estoques de suco laranja encaram pior safra/(Foto: Pixabay/Pexels).

A combinação de calor extremo, seca prolongada e a crescente incidência da doença greening nas lavouras de laranja tem mantido os preços da fruta e do suco em níveis elevados.  O levantamento mais recente da CitrusBR, realizado em dezembro e divulgado em março, revelou que o volume de suco armazenado era de 463.940,92 toneladas, o segundo pior da série histórica desde junho de 2011. A situação foi ainda mais crítica em junho de 2023, quando os estoques caíram para 84.745 toneladas, o pior registro até então. 

As estimativas da CitrusBR focam na bebida destinada ao mercado externo. Assim, mesmo com os estoques tecnicamente zerados, é possível encontrar suco de laranja já embalado no mercado, embora novos volumes para engarrafamento estejam em falta.  A situação é reflexo direto da baixa produção de laranja. A safra 2024/2025 no Brasil está projetada para ser a pior em 36 anos, com uma colheita estimada em 232 milhões de caixas, uma queda de 24% em relação à safra anterior, segundo o Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus). 

Impactos nos preços e na oferta 

Mesmo com a escassez de laranjas, não significa que o mercado ficará completamente desabastecido. No entanto, a competição entre a indústria e os consumidores pelo produto in natura já está pressionando os preços para cima. Em julho, o Índice de Preços ao Consumidor (IPCA) revelou que os sucos de frutas ficaram 7,46% mais caros nos últimos 12 meses, enquanto a laranja pêra, a mais popular, teve uma alta de 41,12% no mesmo período. Outras variedades, como a baía e a lima, também registraram aumentos expressivos. 

Para a indústria, o impacto é ainda maior. Dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq – USP) mostram que, em julho, o preço da laranja para a indústria subiu 80% em comparação com o mesmo mês em 2023. As previsões para a safra 2024/2025 indicam que os estoques de suco de laranja podem zerar ao fim da temporada. Segundo Fernanda Geraldini, pesquisadora de frutas do Cepea, essa possibilidade depende do volume de frutas negociadas e das vendas para a indústria. Ainda que o cenário de estoque zerado seja improvável, ele não pode ser descartado, principalmente devido à competição acirrada entre a indústria e o consumidor final pela laranja in natura. 

No Estado de São Paulo, maior produtor de laranja do Brasil, cerca de 80% da safra é destinada à indústria. Caso esse volume não seja suficiente, os 20% restantes estarão sujeitos a uma intensa disputa. 

Substituições e alternativas: o impacto no consumo  

Diante dos preços elevados, os consumidores já estão buscando alternativas ao suco de laranja, optando por outras variedades de suco. Essa mudança na demanda já começou a ser notada, conforme destaca Andres Padilla, analista de mercado do Rabobank. Além disso, algumas empresas estão reformulando suas bebidas, reduzindo a quantidade de suco de laranja e substituindo-o por suco de maçã. 

Apesar dessas mudanças, a demanda ainda supera a oferta. A CitrusBR destaca que, com menos laranja nos sucos, a compra do produto brasileiro pela indústria internacional pode diminuir, especialmente entre grandes consumidores como União Europeia e Estados Unidos. 

Desafios

As condições climáticas adversas no segundo semestre de 2023, com ondas de calor intensas e chuvas abaixo da média, foram as principais responsáveis pela quebra de safra da laranja. O coordenador da Pesquisa de Estimativa de Safra (PES) do Fundecitrus, Vinicius Trombin, explica que para uma boa safra de laranja, o cultivo precisa de um período inicial de seca para causar estresse hídrico, seguido de chuvas que promovam o florescimento. Porém, temperaturas acima de 35°C durante o desenvolvimento das frutas podem causar um desequilíbrio hormonal nas plantas, levando ao abortamento dos frutos. 

Além das condições climáticas, a doença greening continua a afetar negativamente a produção de laranja. Atualmente, cerca de 77 milhões de laranjeiras estão contaminadas com o greening no Cinturão Citrícola, o que representa aproximadamente 38,06% do plantio, de acordo com o Fundecitrus. Essa doença, causada por uma bactéria transmitida por um inseto, reduz a qualidade e a produtividade da fruta, resultando em frutos deformados, com menor qualidade do suco, e até mesmo a morte das árvores.  

Impacto global e perspectivas futuras  

A situação do greening não afeta apenas o Brasil. Nos Estados Unidos, todos os pomares da Flórida, um dos maiores produtores de laranja do mundo, estão contaminados pela doença. Essa condição, combinada com a crise climática, fez com que o preço do suco de laranja no mercado internacional triplicasse nos últimos dois anos, de cerca de US$ 2 mil para US$ 6 mil por tonelada, segundo Andres Padilla, do Rabobank. 

Para os próximos anos, a expectativa é de que o Brasil leve até três safras, ou seja, aproximadamente três anos, para repor os estoques de suco de laranja. Isso se deve ao tempo necessário para que novas árvores, plantadas após a erradicação de pés contaminados, atinjam a maturidade e produzam frutos em quantidade significativa. Além disso, alguns produtores estão migrando para novas regiões, como Mato Grosso do Sul e partes de Minas Gerais, na tentativa de escapar da propagação do greening, o que também influencia esse prazo. 

Apesar das dificuldades, há uma ponta de otimismo. Se o segundo semestre de 2024 apresentar temperaturas mais amenas e chuvas em níveis adequados, a safra de 2025 pode ser maior do que a deste ano, o que ajudaria a estabilizar os preços do suco de laranja nos próximos dois anos.