Nos últimos dez anos, o fechamento de capital tem transformado o mercado de capitais brasileiro, gerando uma mudança estrutural expressiva. O número de empresas que decidiram fechar seu capital tem superado a quantidade de novas ofertas iniciais de ações (IPOs), um fenômeno impulsionado pelo cenário econômico e pela busca por estratégias financeiras mais vantajosas. Segundo levantamento do Valor, desde 2014, ocorreram 94 IPOs na B3, enquanto 93 empresas optaram por fechar capital por meio de Ofertas Públicas de Aquisição (OPAs), e essa tendência deve continuar crescendo.
Fechamento de Capital e a Redução de Empresas na Bolsa
O movimento de fechamento de capital contribuiu para uma redução considerável da quantidade de empresas listadas na B3. Em 2021, a bolsa alcançou seu pico histórico de 463 companhias com ações negociadas. No entanto, atualmente, esse número caiu para 421, evidenciando a diminuição da presença de empresas no mercado de capitais brasileiro.
O Carrefour Brasil é um dos exemplos mais recentes desse movimento. O grupo anunciou sua saída da bolsa brasileira, não por meio de uma OPA tradicional, mas pela incorporação da holding da subsidiária. Essa operação reduzirá ainda mais o número de empresas listadas. Além disso, a empresa de energia Serena (ex-Omega) e a rede de clínicas Oncoclínicas também avaliam esse caminho, possivelmente seguindo o mesmo destino de fechamento de capital.
O Brasil está há mais de três anos sem novos IPOs de relevância, algo que não acontecia há décadas.
Investidores Estrangeiros Impulsionam o Fechamento de Capital
Especialistas apontam que investidores estrangeiros estão desempenhando um papel crucial nesse movimento. O real depreciado e a desvalorização das ações brasileiras tornaram algumas empresas alvos atraentes para aquisição. Isso tem impulsionado transações conhecidas como “take private”, onde fundos de private equity compram empresas listadas e as retiram da bolsa.
Um caso recente foi o da seguradora Alper, adquirida pelo fundo Warburg Pincus, que posteriormente fechou seu capital. O setor de private equity, que historicamente impulsionava IPOs com suas empresas investidas, agora está enxergando mais vantagens em retirar companhias do mercado público para maximizar seus retornos.
O empresário Pedro Brandão (foto), especialista em finanças e CEO da CredÁgil, ressalta: “O movimento de fechamento de capital não deve ser encarado apenas como uma resposta ao mercado atual, mas como uma estratégia para empresas que buscam maior controle sobre suas operações e investimentos. Muitas companhias percebem que a negociação em bolsa nem sempre traz as vantagens esperadas, e o ambiente regulatório pode ser um fator de pressão adicional. A decisão de sair do mercado de capitais pode ser uma escolha lógica para otimizar resultados a longo prazo.”
Investidores institucionais
Outro fator que explica esse fenômeno é o desinteresse de investidores institucionais em novas ofertas, já que a volatilidade do mercado e a falta de previsibilidade econômica tornam os IPOs menos atrativos. Em contrapartida, empresas listadas com histórico sólido e estrutura de governança consolidada estão sendo adquiridas com maior frequência por grandes grupos.
O Impacto dos Fechamentos e o Futuro da Bolsa
Sem perspectivas de uma retomada robusta das ofertas iniciais de ações no curto prazo, algumas empresas brasileiras começam a olhar para alternativas internacionais.
De acordo com Pedro Brandão, há um crescente interesse de companhias nacionais em explorar IPOs nos Estados Unidos, onde o mercado apresenta mais liquidez e interesse por novos negócios.
Diante desse cenário, a tendência de fechamento de capital no Brasil deve continuar, especialmente com o aumento do interesse de fundos estrangeiros em aquisições estratégicas. A avaliação de empresas antes de uma OPA e a due diligence financeira são aspectos críticos para essas operações, garantindo que investidores minoritários recebam propostas justas e alinhadas ao mercado.
A estratégia de saída adotada por acionistas e fundos privados mostra que o mercado acionário brasileiro pode seguir um caminho mais voltado para fusões e aquisições do que para novas listagens. Enquanto o ambiente doméstico não se torna favorável para novas ofertas públicas, o mercado segue acompanhando a evolução desse fenômeno, que pode redefinir o futuro da bolsa brasileira nos próximos anos e influenciar as tendências de IPO no Brasil.