Os charutos de Cuba podem estar entre os próximos produtos de alto valor afetados diretamente pela crise climática. Cultivados principalmente em Pinar del Río, no oeste da ilha, os tradicionais campos de tabaco vêm enfrentando secas prolongadas, chuvas irregulares e intrusão salina nas lavouras.
Produtores relatam que não conseguem mais prever a época das chuvas e, em muitos casos, precisam bombear água de rios próximos — com alto custo de combustível e impacto na produtividade. Segundo dados oficiais cubanos, as áreas com seca aumentaram 47% entre novembro de 2024 e janeiro de 2025.
O estresse hídrico afeta a qualidade da folha e sua combustão, elemento essencial para a excelência dos charutos de Cuba.
Conheça os famosos charutos de Cuba no vídeo abaixo:
Turismo rural vira alternativa para produtores locais
Com a queda na produtividade, muitos agricultores passaram a abrir suas propriedades para turistas. Fazendas como a Finca La Esmeralda combinam cultivo de tabaco e visitas guiadas com venda direta de charutos artesanais.
Esse modelo ajuda a manter a renda, mas sofre com a queda no turismo. Em 2024, Cuba recebeu apenas dois milhões de visitantes, abaixo da meta de três milhões. Sem fluxo turístico, produtores perdem receita extra, o que afeta diretamente a produção dos charutos de Cuba.
Salinidade e temperatura alteram características da folha
Além da instabilidade nas chuvas, o aumento do nível do mar e a salinização do solo vêm alterando a composição química do tabaco. A planta passa a gastar mais energia para absorver água e nutrientes, prejudicando a textura, o sabor e a combustão das folhas — características essenciais para a identidade dos charutos de Cuba.
O governo cubano afirma estar atuando em medidas de mitigação, como o melhoramento genético de sementes e o uso de fertilizantes naturais. No entanto, especialistas alertam que o ritmo das mudanças climáticas pode superar a capacidade de adaptação no curto prazo.
Clima pressiona, mas exportação de charutos bate recorde
Mesmo sob pressão climática, os charutos de Cuba continuam como um dos maiores símbolos da ilha. Em 2024, a estatal Habanos registrou lucro recorde de US$ 827 milhões com exportações, puxadas pelas marcas premium como Cohiba e Montecristo.
Essa resiliência, no entanto, esconde os desafios enfrentados no campo. Com custos crescentes, queda na produtividade e escassez de recursos, a cadeia de produção depende cada vez mais de investimentos em sustentabilidade, apoio estatal e diversificação econômica.
Se as condições climáticas continuarem se agravando, a sobrevivência dos charutos cubanos como conhecemos pode estar em risco.