A frequência de apagões em São Paulo aumentou 12,8% entre janeiro e outubro de 2025, com 328.091 ocorrências registradas no período, ante 290.757 no mesmo intervalo do ano anterior. É o que apontam os dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
O crescimento das interrupções ocorre em um ano marcado por sucessivos episódios de grande escala e por questionamentos crescentes sobre a capacidade operacional da Enel Distribuição São Paulo. Ao longo de 2025, o tema deixou o campo do transtorno pontual e entrou no debate sobre eficiência urbana, continuidade do serviço e custo para empresas e consumidores.
Apagões em São Paulo: 2025 concentrou episódios de grande porte
O vendaval da última quarta-feira (10/12) foi o caso mais recente e mais visível. O apagão provocado pelos ventos de quase 100 km em São Paulo afetou milhões de clientes da região metropolitana. Além disso, com impacto no abastecimento de água, por falhas em sistemas de bombeamento e atrasos em aeroportos. O episódio, porém, não surgiu isolado e é apenas um dos apagões em grande escala sofridos por São Paulo no ano.
Em janeiro, uma chuva intensa interrompeu o fornecimento para 660 mil imóveis na Grande São Paulo. Após o pico, 150 mil unidades ainda permaneciam sem energia. Já em março, outra tempestade deixou mais de 173 mil clientes no escuro, conforme números divulgados pela própria Enel.
A sucessão desses apagões em São Paulo ao longo do ano deslocou o debate da excepcionalidade climática para a condição da rede e da resposta operacional. Portanto, ampliando a atenção de reguladores, prefeituras e agentes econômicos.
Impacto dos apagões sobre a economia urbana de São Paulo
O impacto financeiro ficou mais evidente no apagão de dezembro. Estimativa da FecomercioSP apontou perda de ao menos R$ 1,54 bilhão em faturamento do comércio e dos serviços da capital em apenas dois dias de interrupção. Além da queda direta de receitas, empresas relataram descarte de produtos perecíveis, paralisações inesperadas e aumento de custos com soluções emergenciais.
Há ainda efeitos menos visíveis, mas persistentes:
- Reprogramação logística;
- Atrasos no setor de entregas;
- Paradas de linha na indústria leve;
- e maior dependência de geradores.
Tudo isso eleva despesas operacionais e reduz margens em um ambiente já pressionado.
Multas, reclamações e desgaste regulatório da Enel
A resposta institucional acompanhou a piora dos indicadores de apagões observados em São Paulo. Em 2025, órgãos de defesa do consumidor intensificaram a atuação diante do aumento das reclamações por demora no restabelecimento do serviço e falhas de comunicação. O Procon Paulistano aplicou multa de R$ 14,268 milhões à Enel, citando descumprimento de obrigações com consumidores.
Relatórios técnicos da Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de São Paulo (Arsesp) reforçaram o diagnóstico de fragilidade estrutural. Eles apontaram elevado grau de deterioração da rede e centenas de problemas técnicos em equipamentos de distribuição, associados à ausência prolongada de manutenção em áreas vistoriadas.
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Falta de luz como variável econômica e risco de concessão
No plano federal, o Ministério de Minas e Energia informou que pedirá à Aneel avaliação sobre a continuidade da concessão da Enel em São Paulo, diante do histórico recente de falhas. O debate, agora, ultrapassa o desconforto do usuário final e entra no terreno da eficiência do serviço público concedido.
Nesse contexto, os apagões em São Paulo passaram a funcionar como variável econômica permanente: afetam faturamento, elevam custos operacionais e adicionam risco regulatório à concessionária. Portanto, a forma como a empresa responderá tende a definir se o problema continuará a pressionar a atividade urbana nos próximos anos.











