A eventual proposta da Azul pela compra da Gol terá de ser chancelada pelos credores da empresa aérea em recuperação judicial nos Estados Unidos, sob o regime do “Chapter 11”. Esse processo permite aos credores a última palavra sobre as propostas recebidas pela Gol, incluindo empréstimos e possíveis fusões ou aquisições. A informação vem de uma fonte familiarizada com a situação.
Recentemente, a Abra, controladora da Gol e da Avianca, conseguiu neutralizar a resistência de detentores de dívida e instituições financeiras ao seu plano de empréstimo garantido na reestruturação. Esse passo é crucial, pois são esses credores que avaliarão a proposta da Azul.
A Azul, com um valor de mercado de R$ 4,1 bilhões, posiciona-se de forma mais robusta em negociações quando comparada à Gol, avaliada em R$ 1,085 bilhão, de acordo com dados do Valor Data. Esse diferencial financeiro dá à Azul uma vantagem nas discussões.
A história entre Azul e Gol já teve seus momentos de tensão, principalmente devido a desafios legais enfrentados pela família Constantino, que controla a Gol. Essas questões jurídicas foram empecilhos em negociações anteriores entre as duas empresas.
No entanto, a Gol tem o suporte dos detentores de “bondholders” da Abra, com vencimentos em 2028, que já aprovaram o empréstimo DIP (Debtor-in-Possession). Aqueles com papéis vencendo em 2026 questionaram o processo inicialmente, mas após negociações, concordaram e contribuíram com mais recursos, elevando o montante do DIP para US$ 1 bilhão.
Outros grandes acionistas, como a família Cueto, a Qatar Airways e a Delta Air Lines, viram sua participação na Latam reduzir de 46% para 25% após o processo de recuperação judicial da empresa. Atualmente, a Abra detém aproximadamente 53% da Gol, mas fontes acreditam que não haverá resistência da família Constantino ao negócio com a Azul.
Joana Bontempo, diretora de reestruturação de empresas da CSMV Advogados, observa que a Gol tem um caminho mais seguro que a Latam, graças ao acordo prévio com os credores. A Azul precisaria de uma oferta substancialmente atraente para convencer os credores a mudar de lado.
Já o analista do UBS BB Alberto Valerio tem uma visão neutra sobre a aquisição pela Azul, questionando a capacidade financeira da companhia para tal empreitada. Embora a Azul tenha melhorado sua liquidez, sua dívida ainda é maior que a da Gol. O financiamento para a compra precisaria vir de parcerias ou novas dívidas, um desafio no atual cenário econômico.
A Azul manifestou interesse em consolidar sua posição no mercado brasileiro, mesmo enfrentando rivalidades internas do setor. Em 2021, tentou adquirir a Latam Brasil durante seu processo de recuperação judicial, mas sem sucesso. Agora, volta sua atenção para a Gol, numa disputa que promete redefinir o cenário da aviação comercial no Brasil.