O dólar teve uma nova alta nesta terça-feira (17), mesmo com novos leilões de moeda à vista pelo Banco Central do Brasil. A moeda atingiu R$ 6,2008, um aumento de 1,72% no dia e elevando a pressão sobre a economia brasileira. Veja os motivos abaixo:
Intervenção do Banco Central não segura a alta do dólar
Nos últimos quatro dias úteis, o Banco Central intensificou intervenções no mercado cambial. Apenas nesta terça-feira, foram ofertados US$ 1,272 bilhão em leilões de moeda à vista. No acumulado desde quinta-feira passada, a injeção total chega a US$ 10,745 bilhões, dividida entre vendas à vista e operações com compromisso de recompra.
Mesmo com essas medidas, o dólar não cedeu. A moeda já havia encerrado a segunda-feira em R$ 6,09 e, nesta manhã de terça, voltou a subir, alcançando R$ 6,20.
Segundo Geldo Machado, presidente do SINFAC CE-PI-MA-RN:
“Os investidores buscam proteção contra as incertezas fiscais e temem a ‘desidratação’ do pacote de cortes de despesas no Congresso. O mercado já mostrou que vai comprar o que o Banco Central oferecer. Por isso, a cotação do dólar não cai, apesar dos leilões dos últimos dias.”, pontuou.
Alta do dólar: incertezas fiscais e impacto no câmbio
A alta do dólar está diretamente ligada às incertezas fiscais. O pacote de corte de gastos apresentado pelo governo em novembro não convenceu o mercado. A previsão é de uma economia de R$ 327 bilhões em cinco anos, porém a implementação dessas medidas encontra obstáculos no Congresso, o que aumenta a preocupação com a desidratação do plano.
Entre as propostas mais polêmicas estão a limitação do aumento do salário mínimo, ajustes no Benefício de Prestação Continuada (BPC) e o combate aos supersalários do funcionalismo. Analistas apontam que a falta de confiança nessas iniciativas tem levado investidores a buscar refúgio em dólares.
Expectativas econômicas em deterioração
O Boletim Focus, divulgado na segunda-feira, mostrou piora nas projeções de inflação para os próximos meses. Além disso, declarações recentes do presidente Lula, criticando a alta da Selic, reforçaram a desconfiança sobre o compromisso do governo com o ajuste fiscal.
Simultaneamente, o Tesouro Nacional alertou para um aumento da dívida pública, que pode atingir 81,7% do PIB até 2026. O cenário combina alta dos juros, aumento do déficit primário e dificuldades para equilibrar as contas públicas.
Proteção cambial e demanda reprimida
No mercado cambial, analistas observam uma corrida por dólares devido as incertezas da pacote fiscal . Empresas e investidores, que aguardavam uma queda na moeda para realizar compras, anteciparam suas operações diante do aumento.
O recesso parlamentar, previsto para iniciar em 23 de dezembro, impõe um prazo curto para aprovação das medidas fiscais. Esse fator aumenta a pressão sobre a demanda por dólar.
Pedro Brandão, especialista em finanças e CEO da CredÁgil, comentou sobre a alta do dólar:
“A instabilidade do dólar reflete a busca dos investidores por proteção diante das incertezas fiscais e da instabilidade econômica. O atraso na definição de medidas para equilibrar as contas públicas gera desconfiança, pressionando ainda mais a moeda. Sem uma sinalização clara do governo, o cenário tende a se agravar.”