O uso de fintechs e lavagem de dinheiro está no centro de uma denúncia do Ministério Público de São Paulo. O Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) acusa três homens de movimentar bilhões de reais para o PCC por meio de empresas de tecnologia financeira. A Polícia Federal também participou da investigação, que revelou um esquema internacional com atuação no Brasil e em diversos países.
Conforme publicado pelo G1, a denúncia foi apresentada no dia 14 de março. Os acusados são o policial civil Cyllas Salerno Elia Junior, sócio da 2GO Bank, e os empresários Carlos Alexandre Ballotin e Marcelo Henrique Antunes da Palma, fundadores da InvBank. Segundo o Ministério Público, eles lavaram cerca de R$ 6 bilhões por meio dessas instituições. As transações envolveram países como China, Holanda, Panamá, Canadá e outros. Portanto, trata-se de um dos maiores casos de crimes financeiros no setor de fintechs já investigados no Brasil.
Esquema envolvia criptomoedas, laranjas e empresas de fachada
Os promotores explicam que os acusados criaram uma rede complexa para ocultar a origem do dinheiro. Para isso, utilizaram empresas de fachada no mercado financeiro, criptomoedas, empréstimos falsos e contas em nome de laranjas. Dessa forma, evitavam o rastreamento por órgãos como a Receita Federal e o Banco Central.
Além disso, eles buscavam manter uma aparência de sucesso e respeito no mercado. Circulavam com carros de luxo, moravam em imóveis de alto padrão, alugados, e patrocinavam eventos caros. Com essa estratégia, reforçavam a imagem de empresários sérios e confiáveis. Consequentemente, essa fachada dificultava a identificação do esquema e disfarçava uma instituição de pagamento fraudulenta.
Segundo o MP, as empresas operavam sem cumprir normas de compliance em fintechs brasileiras. Elas usavam os sistemas de pagamento digital para movimentar valores ilegais sem levantar suspeitas. Esse comportamento mostra falhas graves nos mecanismos de prevenção à lavagem de dinheiro em fintechs.
Delação e morte de colaborador foram cruciais para operação contra fintechs e lavagem de dinheiro
As investigações começaram após a delação premiada de Antônio Vinicius Gritzbach, que revelou detalhes sobre reuniões entre membros do PCC e os representantes das fintechs. Ele contou que Rafael Maeda Pires se apresentava como dono da 2GO Bank, mesmo que o contrato estivesse em nome do policial Cyllas Elia.
No entanto, Gritzbach foi assassinado com tiros de fuzil no Aeroporto de Guarulhos, no dia 8 de novembro de 2023. Ele havia colaborado com o Ministério Público meses antes. Por isso, sua morte aumentou ainda mais a gravidade da denúncia.
Confira o vídeo do SBT sobre a denúncia do MP envolvendo o uso de fintechs como bancos digitais para lavagem de dinheiro do PCC:
Enquanto isso, surgiram evidências de que uma das fintechs fez transações com criptomoedas ligadas a grupos terroristas internacionais. Os nomes não foram divulgados, mas os relatórios do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) classificaram as movimentações como suspeitas.
Prisões, bloqueios e pedido de indenização milionária
O Ministério Público pediu medidas duras contra os envolvidos. Foram solicitadas a prisão preventiva, o bloqueio de bens, a suspensão das atividades econômicas e a quebra dos sigilos bancário e fiscal. Além disso, o MP pediu uma indenização mínima de R$ 100 milhões pelos danos causados ao sistema financeiro.
Cyllas Elia foi preso durante a Operação Hydra, em fevereiro de 2025. Ele já havia sido detido no ano anterior, por um caso semelhante de lavagem de dinheiro com criminosos chineses. A defesa de Ballotin e Palma afirmou que a denúncia é genérica. Já os advogados de Cyllas disseram desconhecer a nova prisão e preferiram não comentar.
Fintechs e lavagem de dinheiro: Impacto e falta de fiscalização
Este caso reforça a preocupação com a identificação de fintechs ilegais no Brasil. Mostra como fintechs e lavagem de dinheiro estão cada vez mais conectadas, especialmente quando há falhas na regulamentação de fintechs no Brasil. Um exemplo é o uso dos termos “Banco” ou “Bank” em marcas de empresas não autorizadas como Banco, tema que está em consulta pública aberta pelo Banco Central.
Por outro lado, o episódio destaca a importância da fiscalização de fintechs pelo Banco Central, especialmente no combate a instituições de pagamento irregulares ou fraudulentas. O uso de sistemas digitais por empresas que operam fora da lei compromete a segurança financeira em plataformas digitais e afeta a confiança no setor.
Especialistas defendem ações mais firmes do Banco Central para evitar novos casos de fraudes em serviços de pagamento digital e para proteger o mercado da atuação de fintechs não regulamentadas. Assim, será possível preservar a integridade do sistema financeiro e combater a influência do crime organizado no setor.
Por fim, fica a dica: antes de fazer qualquer negócio ou investir em uma fintech, consulte o Banco Central, através do serviço de acesso a informação, para verificar se a empresa possui autorização definitiva para operar no mercado e em qual categoria está regulamentada pela autarquia. Se as respostas forem negativas, descarte qualquer possibilidade de parceria comercial.









