Conteúdo Patrocinado
Anúncio SST SESI

Devedor contumaz: entenda o que é e como a lei muda as regras fiscais

Você sabia que no Brasil, algumas empresas transformam a inadimplência fiscal em um verdadeiro modelo de negócio? Conheça o conceito de "devedor contumaz", alvo de um novo projeto de lei que promete mudar as regras fiscais. Com critérios claros e punições severas, a proposta visa separar aqueles que realmente enfrentam dificuldades financeiras dos que sonegam impostos intencionalmente. Descubra como essa legislação pode impactar o ambiente de negócios e quais setores estão mais expostos a essa prática. Não perca a chance de entender como a nova lei pode transformar a concorrência e a segurança jurídica no país!
Fraude em notas fiscais simbolizando o devedor contumaz
Nova lei busca identificar e punir o devedor contumaz, coibindo fraudes fiscais e protegendo a concorrência leal no Brasil (Imagem: Editorial).

Abrir uma empresa deveria significar gerar empregos, produzir riqueza e pagar impostos. Mas, no Brasil, há companhias que escolhem outro caminho: transformam a inadimplência fiscal em modelo de negócio. Esse perfil, chamado de devedor contumaz, virou o alvo principal do projeto aprovado pelo Senado na terça-feira (02/09). A proposta cria o Código de Defesa do Contribuinte (PLP 125/2022) e promete separar quem deve por dificuldade real de quem nunca pretendeu pagar tributos. O texto segue agora para análise na Câmara dos Deputados.

O que é devedor contumaz e o que muda na prática

O conceito de devedor contumaz não se confunde com o inadimplente eventual. Trata-se de empresas que estruturam toda a atividade econômica para sonegar. O substitutivo aprovado no Senado define critérios objetivos:

  • Em nível federal, será considerado devedor contumaz quem tiver dívida injustificada superior a R$ 15 milhões e maior que 100% do patrimônio conhecido;
  • Em estados e municípios, a classificação valerá para inadimplência em 4 períodos consecutivos ou 6 alternados em 12 meses.

As consequências são duras: o devedor contumaz não terá acesso a benefícios fiscais, ficará impedido de participar de licitações públicas, de celebrar contratos com o poder público e até de ingressar em recuperação judicial.

Devedor contumaz e a operação Carbono Oculto

Embora o PLP 125/2022 tenha sido apresentado em 2022, a votação acelerada ocorreu após a operação Carbono Oculto, da Polícia Federal. A investigação revelou como distribuidoras de combustíveis e fundos de investimento foram usados para lavagem de dinheiro e evasão fiscal, com participação de fintechs e até de facções criminosas, como o PCC.

A Receita Federal estima que cerca de 1.200 CNPJs concentram R$ 200 bilhões em dívidas tributárias sem perspectiva de recuperação. Esse cenário ajudou a construir consenso no Senado de que o devedor contumaz é uma ameaça direta à concorrência leal e ao ambiente de negócios.

Setores mais propensos a sonegação

A prática da contumácia fiscal é recorrente em setores de grande circulação de mercadorias e alta possibilidade de esconder patrimônio. Entre os mais expostos:

  • Combustíveis: distribuidoras de fachada e postos registrados em nome de laranjas;
  • Varejo de alto giro: comercialização de grandes volumes com emissão irregular de notas fiscais;
  • Bebidas e derivados: produção paralela ou adulterada para reduzir carga tributária;
  • E-commerce cinza: vendas digitais de produtos importados irregularmente ou sem nota fiscal.

Essas atividades, pela velocidade e pelo volume de transações, são terreno fértil para empresas conhecidas como “casca de ovo”: no papel, parecem regulares, mas na prática não possuem patrimônio ou estrutura operacional real.

Direitos e deveres do devedor contumaz na nova lei

Além de definir sanções, o Código de Defesa do Contribuinte lista direitos básicos, que também se aplicam em casos de contumácia:

  • direito a atendimento com respeito e linguagem clara;
  • acesso a processos administrativos e prazos razoáveis de decisão;
  • sigilo das informações do contribuinte;
  • possibilidade de recorrer de decisões contrárias.

Em contrapartida, o contribuinte — inclusive o devedor contumaz — deverá cumprir suas obrigações tributárias, declarar operações relevantes, guardar documentos fiscais e acatar decisões judiciais e administrativas.

Programas de conformidade e incentivo ao bom pagador

O texto aprovado não foca apenas em punição. Foram criados programas de conformidade, como o Confia e o Sintonia, que beneficiam empresas regulares com vantagens como:

  • bônus de adimplência de até R$ 1 milhão na CSLL;
  • prioridade na análise de processos administrativos;
  • flexibilização de garantias em execuções fiscais;
  • canais simplificados de atendimento com a Receita Federal.

A ideia é reforçar a lógica de que cumprir a lei pode ser mais vantajoso do que tentar burlar o sistema.

Devedor contumaz: lei terá impacto real ou será decorativa?

A grande questão é se o texto aprovado terá efetividade. Há avanços importantes:

  1. Critérios claros de identificação.
  2. Punições econômicas diretas, que atingem benefícios, contratos e acesso a crédito.
  3. Prazo de defesa de 30 dias, com rito simplificado para evitar recursos intermináveis.

Por outro lado, existem obstáculos:

  • Judicialização: advogados podem alegar “sanção política” e contestar restrições como o veto à recuperação judicial.
  • Estratégias empresariais: grupos sofisticados podem dispersar ativos para escapar dos limites de patrimônio.
  • Integração de dados: sem cruzamento eficiente entre Receita, ANP, Bacen e fiscos estaduais, o devedor contumaz pode simplesmente migrar para outro CNPJ.

Diagnóstico final

O projeto aprovado no Senado é fruto de anos de debate, mas ganhou fôlego após escândalos que associaram evasão fiscal a esquemas criminosos. A rapidez da votação reflete a urgência em coibir práticas que corroem a concorrência e fragilizam setores estratégicos da economia.

Se for bem executada, a lei pode reduzir a concorrência desleal, aumentar a segurança jurídica e valorizar empresas que cumprem suas obrigações. Caso contrário, o devedor contumaz continuará operando à margem, e o texto corre o risco de se tornar apenas mais uma promessa de endurecimento sem aplicação prática.

Confira nossos canais
Siga nas Redes Sociais
Notícias Relacionadas