Após a criação da primeira incubadora, no início dos anos 80, no Vale do Silício (Califórnia – EUA), o comportamento marcado por investir em capital de risco generalizou-se em alguns setores e países, principalmente os desenvolvidos, pelo mundo afora. Na esteira de tal iniciativa e como pedal acelerador do empreendedorismo inovador criou-se em 2017 na cidade de Paris, França, o maior campus de startups do mundo, o Espaço Station F, cujo objetivo primaz era estruturar e promover o ecossistema de startups francesas. Nas palavras do seu criador, o visionário francês Xavier Niel: “Com a Estação F, queremos fornecer uma estrutura para o ecossistema de startups, que atualmente está fragmentado na França e na Europa”.
A Station F é uma incubadora de startups que funciona em um antigo prédio parisiense dos Correios de 34 mil metros quadrados e cujo objetivo foi criar um espaço de coworking e apoio para startups que possibilitasse a essas firmas inovadoras se beneficiarem da externalidade positiva de um ambiente de trabalho flexível e de serviços de qualidade, oferecendo-lhes ao mesmo tempo a oportunidade de se conectarem com outras empresas e empreendedores. Lá estão presentes aproximadamente 3.000 empreendedores, 1.000 startups, várias Escolas de Negócios (ex. INSEAD), Serviços Públicos e Administrações, além de hospedar marcas como LVMH (luxo), L’ORÉAL (beleza), Facebook (dados), BNP Paribas (FinTech), Ubisof (jogos), Total (energia), Microsoft (tecnologia verde), ShakeUp (FoodTech), HECTAR (AgriTech), Laboratórios TF1 (mídia) e Moove (mobilidade), Binance Lab (cripto), Fundos de Investimentos (mercado financeiro) como o Kima Ventures e o Korelya Capital, etc., ou seja, o campus é “um verdadeiro formigueiro para gênios criativos!”
Convém ainda mencionar que já existem em funcionamento iniciativas semelhantes em países como Colômbia e Japão. A ideia que lastreia esse Projeto é reunir em um mesmo locus espacial firmas inovadoras dos mais diversos setores para que se apropriem das sinergias e externalidades positivas do ambiente de criação e desenvolvimento de inovações de produtos e serviços a exemplo, também, do que ocorrera no Vale do Silício.
Enfim, como na Station F, “o interesse é reunir startups, empresas, investidores e serviços públicos num mesmo local para facilitar as trocas. É uma rede social física”. Defendemos, portanto, que Fortaleza desenvolva iniciativa semelhante ao modelo francês. Porque Fortaleza? A cidade, apesar dos vários problemas que caracterizam grandes metrópoles, ainda é bastante atrativa, sobretudo para os jovens, além ser um repositório de capacidades (ex. recente, a instalação do ITA), essencial para engendrar movimentos inovadores. Como fazer? Via parceria setor privado (empreendedores) Estado/Prefeitura (órgãos governamentais) com a possibilidade factível de Consultoria, se for o caso, fornecida pela própria Station F de Paris. Estamos reinventando a roda? Não, haja vista as experiências do Porto Digital no Recife e o Cubo Itaú na cidade de São Paulo, este último com foco no setor financeiro.
Por fim, a título de exercício prospectivo quais setores poderiam compor inicialmente a suposta “Carteira” de startups da Estação F (de “Futuro”) em Fortaleza? Poderiam compor tal Carteira os setores Agro, Construção Civil, Energia Limpa, Saúde, Finanças, Têxtil, Serviços de Turismo, Gestão Empresarial etc.
Adicione-se que, em torno da área física dessa Estação, dependendo de sua localização, apontamos a tendência da proliferação e adensamento de negócios como restaurantes, cafés, salas comerciais, moradias, dentre outros.
Em tempos de consolidação da Inteligência Artificial como insumo fundamental da engenharia produtiva de bens e serviços, é provável que a implantação da Estação F na capital cearense tenha um efeito transbordamento positivo (spillover effect) sobre a economia, para formatar uma sociedade mais próspera. Aqui, o papel do Estado e do Município é fundamental para criar estímulos e incentivos à adesão privada à Estação em Fortaleza. Avaliado mérito técnico-econômico, mãos à obra.
*Opinião – Artigo Por José Cruz Filho. Graduado e Mestre em Economia pelo CAEN (UFC). Graduado em Direito pela UPIS (Brasília). Foi assessor de Economia da Presidência do Banco do Brasil e Subchefe Adjunto de Infraestrutura da Casa Civil da Presidência da República.
**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal.