Duas grandes exportadoras brasileiras, Vale e Suzano, estão conduzindo operações comerciais com a China utilizando a moeda local chinesa, o yuan (também conhecido como renminbi – RMB). Essa estratégia acompanha uma tendência observada entre instituições financeiras como o Banco de Comunicações da China (BoCom) e o Banco Industrial e Comercial da China (ICBC), que iniciaram esse tipo de transação no ano passado.
A mineradora Vale confirmou que já realizou vendas de minério de ferro diretamente em yuan, sem conversão para o real brasileiro. Por outro lado, a Suzano Papel e Celulose está em fase inicial, desenvolvendo pequenos projetos e acumulando experiência neste tipo de operação.
Esse movimento ganhou destaque após a visita do presidente Lula a Pequim e Xangai, onde defendeu o uso de alternativas ao dólar no comércio internacional. No entanto, a adoção do yuan por parte de empresas privadas precede essas declarações e até mesmo a pandemia de COVID-19.
No mercado “spot” chinês, onde ocorrem vendas no varejo, a Vale já realiza parte de suas transações em yuan através de sua unidade local. Este mercado atende principalmente siderúrgicas de pequeno e médio porte na China, que operam com estoques limitados.
Walter Schalka, CEO da Suzano, em uma entrevista à TV Bloomberg no meio do ano passado, mencionou a crescente importância do yuan e a demanda por essa moeda por parte de clientes menores. Schalka previu que o dólar se tornaria menos relevante com o tempo.
De acordo com Tulio Cariello, diretor de pesquisa do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), empresas como Vale e Suzano se beneficiam diretamente com a redução dos custos de transação e o fortalecimento do caixa em moeda local ao adotar o yuan.
David Cohen, tesoureiro da unidade do BoCom no Brasil, comentou sobre as vantagens operacionais e financeiras para as grandes exportadoras que possuem estruturas na China, como escritórios e compras de maquinário local. Cohen também apontou condições favoráveis, tanto burocráticas quanto de preço, para operações liquidadas em yuan, incentivadas pelo governo chinês.
A estratégia de internacionalização da moeda chinesa inclui acordos com outros países da região, como Chile e Argentina, e faz parte do esforço da China para se posicionar como uma das principais potências comerciais globais.
Porém, Cariello alertou sobre o risco cambial associado ao uso do yuan, principalmente devido à sua potencial desvalorização relativa. Ele também mencionou as propostas de assessores do ex-presidente americano Donald Trump de criar obstáculos para países que buscam alternativas ao dólar, indicando que essa é uma questão que pode evoluir para um conflito entre Estados Unidos e China no futuro.