O Brasil vive uma epidemia silenciosa de crimes cibernéticos que movimenta bilhões fora da economia formal. O golpe financeiro virtual atingiu 33,4% dos brasileiros — o equivalente a 56 milhões de pessoas — nos últimos 12 meses, segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV) e dados da pesquisa Datafolha, encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
As perdas chegaram a R$ 111,9 bilhões, envolvendo fraudes bancárias, golpes do Pix, boletos falsos, clonagem de cartão de crédito e compras online não entregues. Além disso:
- 31,4% (53 milhões) tiveram dados pessoais expostos, caracterizando roubo de identidade.
- 36,3% (61,3 milhões) relataram tentativas de estelionato digital.
Celulares como porta de entrada para golpe financeiro virtual
O Brasil tem 258 milhões de smartphones em uso, média de 1,2 por habitante, segundo a FGV. Entre julho de 2024 e junho de 2025, quem teve o celular furtado ou roubado teve 3,7 vezes mais chance de ser vítima de golpe via WhatsApp, phishing ou outros ataques cibernéticos.
Facções criminosas ampliam atuação no golpe financeiro virtual
A pesquisa mostra que facções como o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV) migraram parte de suas operações para crimes patrimoniais digitais, usando centrais de telemarketing fraudulentas para aplicar fraudes online e movimentar dinheiro por meio de lavagem de dinheiro virtual.
Segundo Renato Sérgio de Lima, diretor-presidente do Fórum, o crime patrimonial digital já representa parcela relevante do faturamento dessas organizações.
Perfil das vítimas e impacto social
O estudo revela que:
- Nas classes A e B, 27,6% sofreram chantagem ou extorsão com uso indevido de dados pessoais.
- Nas classes C, D e E, o percentual foi de 16,4%.
- Prejuízo financeiro online em compras não entregues afetou 25,1% das classes mais altas e 15,4% das demais.
Além do golpe financeiro virtual, 21,8% (36 milhões) sofreram crimes patrimoniais com interação física. O roubo ou furto de celular atingiu 9,3% (15,7 milhões), com prejuízo médio de R$ 1.700 por vítima, totalizando R$ 26,7 bilhões.
O avanço dos crimes digitais expõe uma vulnerabilidade sistêmica: a combinação de população hiperconectada com falta de infraestrutura estatal para combater essas fraudes. Embora a pesquisa mostre que todas as classes sociais são atingidas, o golpe financeiro virtual ocorre com maior frequência entre grupos de renda mais alta, o que revela um refinamento das estratégias criminosas. O acesso a dados pessoais e o uso de tecnologia fortalecem esse fenômeno. Sem uma resposta coordenada que una regulação, tecnologia de proteção e educação digital, esse tipo de crime tende a crescer rapidamente.