A produtividade do trabalho teve queda em 2022, mesmo com o avanço do emprego formal, o que reforça a percepção de que os ganhos de eficiência na pandemia resultaram de fatores específicos e temporários. As perspectivas para 2023 não são animadoras e pode haver nova contração.
Segundo o FGV Ibre, a produtividade do trabalho, calculada pela comparação do valor adicionado com as horas efetivamente trabalhadas, caiu 4,5% em 2022, após uma retração de 7,9% em 2021. Em 2020, primeiro ano da pandemia, o indicador teve um salto de 12,7%, número que contrastou com a tendência de queda média de 0,3% de 2014 a 2019.
O valor adicionado, que é uma variável próxima ao PIB, mas que exclui impostos e subsídios, cresceu 3% em 2022, enquanto as horas efetivas subiram 7,9%. Esse indicador reflete melhor os impactos da pandemia, que derrubaram bruscamente as horas de trabalho em 2020. Com o progressivo relaxamento das medidas de isolamento para combater a covid, as horas trabalhadas se recuperaram com força. E, como a crise sanitária também afetou mais as categorias menos produtivas e trabalhadores menos qualificados, a produtividade subiu em 2020.
Porém, em 2021 e 2022, conforme os setores se recuperaram e os trabalhadores voltaram ao mercado, o indicador não só caiu ante 2020 como está abaixo do pré-pandemia. Ao longo de 2022, o mercado de trabalho foi sustentado pelo emprego formal. Como o trabalhador formal tende a ser mais produtivo que o informal, seria esperado um aumento de produtividade, o que não ocorreu. Uma explicação é que o setor formal está sendo puxado pelo trabalhador por conta própria, com CNPJ, muitas vezes um microempreendedor individual (MEI).
Para 2023, a probabilidade maior é de nova queda na produtividade. Quem está mais otimista com o PIB vê mais emprego, diz Silvia Matos, do FGV Ibre. “A característica não muda muito. É muito mais emprego do que PIB.”