O colapso da Walgreens, rede que já valeu mais de US$ 100 bilhões há dez anos e agora foi vendida a um fundo de private equity por menos de 10% desse valor, serve de alerta. Nos Estados Unidos, o avanço do e-commerce, a falta de farmacêuticos e a integração de gigantes da saúde, como seguradoras e planos, além do aumento dos furtos, empurraram as farmácias tradicionais para uma crise sem precedentes no pós-pandemia. Aqui, o setor cresce de forma saudável, sustentado em parte pelas regulação das farmácias no Brasil que limitam o alcance do varejo online na venda de medicamentos.
Regulamentação das farmácias no Brasil
Aqui, a venda de medicamentos, sejam eles sujeitos a prescrição ou isentos de prescrição (OTCs), é restrita exclusivamente a farmácias e drogarias físicas, com a presença obrigatória de farmacêuticos. Isso impede que marketplaces e supermercados entrem nesse mercado, ao contrário do que acontece nos EUA. Essa barreira protegeu o setor da disrupção que atingiu a Walgreens, permitindo que redes como Raia Drogasil, Farmácias Pague Menos, Grupo DPSP, Rede Drogal, Grupo Panvel e Drogaria Araujo continuem crescendo.
Farmácias como hubs de saúde
Além de vender medicamentos, as farmácias brasileiras se consolidaram como hubs de saúde, oferecendo vacinas, testes rápidos, acompanhamento farmacêutico e participação ativa no Farmácia Popular, garantindo o acesso a medicamentos essenciais para milhões de brasileiros.
Mas o potencial vai além: com ajustes na regulação das farmácias no Brasil, elas podem desempenhar um papel ainda mais relevante. Confira:
- Telemedicina nas lojas, desafogando o SUS de demandas simples;
- Acompanhamento de doenças crônicas e prescrição de medicamentos de uso contínuo, com supervisão médica remota;
- Triagem e monitoramento de saúde, aproveitando a capilaridade que o SUS não alcança sozinho.
Inclusive, a própria Abrafarma já defende esse caminho, e há conversas com o governo para ampliar a atuação das farmácias como porta de entrada no sistema de saúde, aliviando o SUS e melhorando o atendimento à população.
O que a queda da Walgreens ensina?
O caso da Walgreens mostra o risco de não acompanhar as mudanças no comportamento do consumidor e na legislação. Embora o Brasil ainda esteja protegido por sua regulação, o consumidor está mudando.
As farmácias que investirem em digitalização, CRM, Retail Media, mix assertivo, entrega rápida e novos serviços (crédito, propaganda e fidelidade) continuarão relevantes.
No Brasil, a capilaridade das farmácias pode ser uma aliada do SUS, evitando a sobrecarga do sistema público. Além de medicamentos, podem atuar na prevenção e no acompanhamento contínuo de doenças, promovendo o autocuidado e ajudando o brasileiro a buscar saúde antes que a doença apareça.
Conheça no vídeo os produtos disponíveis em uma farmácia nos Estados Unidos:
Mas é preciso deixar claro: farmácia não deve ser um mini mercado. Não é lugar para vender ovo, pneu, arroz ou feijão. É um espaço de cuidado, orientação e confiança.
Com o apoio do governo e ajustes na lei, as farmácias podem ser peças-chave para um sistema de saúde mais acessível, eficiente e preventivo, atuando como parceiras do SUS.
*Opinião – Artigo Por Thiago de Melo Furbino, é fundador da Retail Rise, LinkedIn Top Voice e especialista em varejo, inovação e inteligência de mercado. Com 20 anos de experiência em operações, produto, comercial e estratégia, é reconhecido como um dos principais especialistas em desenvolvimento estratégico e inteligência de mercado para o varejo.
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