O preço do leite nos supermercados brasileiros viu uma redução de R$ 8 por litro em 2022 para entre R$ 4 e R$ 5 atualmente. No entanto, os consumidores observam que os preços de produtos derivados, como queijo e manteiga, não seguiram a mesma tendência de queda. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que, enquanto o leite longa vida teve uma redução de 7,9% em seu preço, o queijo apresentou uma queda de apenas 0,82%. Além disso, entre janeiro do ano passado e o mesmo mês deste ano, o custo médio do quilo de queijos subiu 9,7%, e o da manteiga aumentou 12,3%.
Esse cenário se reflete também na produção, onde os produtores de leite enfrentaram dificuldades, com o preço médio pago ao produtor caindo 45%, de R$ 3,57 para R$ 1,97, entre agosto de 2022 e outubro de 2023, conforme informações do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Universidade de São Paulo (USP). Ainda assim, o preço para o consumidor final dos produtos derivados do leite manteve-se elevado.
As importações de leite em pó também bateram recordes em 2023, alcançando US$ 853,6 milhões, representando um aumento de 66% em relação ao ano anterior, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do governo federal. Essa situação gerou uma pressão adicional sobre os preços do leite no mercado interno, em um momento em que a população ainda buscava recuperar seu poder de compra após a pandemia.
Representantes da indústria, como Fábio Scarcelli, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Queijo (Abiq), argumentam que o problema dos altos preços dos derivados reside no varejo, que mantém margens elevadas para produtos como o queijo. Alegam que, apesar da redução dos custos de produção com a queda no preço do leite, os supermercados não repassaram essa diminuição para o consumidor. Por outro lado, a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) informou que não atua na definição de estratégias de preços de seus associados.
O desafio de conciliar a produção e o preço dos laticínios no Brasil é complexo, envolvendo fatores como a eficiência da cadeia produtiva e as políticas públicas voltadas para o setor. A redução no número de produtores de leite, como observado no Rio Grande do Sul, onde houve uma diminuição de 18% entre 2021 e 2023, destaca a pressão crescente sobre os pequenos produtores, muitos dos quais têm abandonado o setor.
A questão do preço dos laticínios no Brasil, portanto, não se limita apenas à relação entre oferta e demanda de leite, mas envolve também a estrutura de mercado, as políticas de importação e a capacidade do setor de se adaptar às mudanças no ambiente econômico e climático. Enquanto isso, os consumidores seguem questionando a discrepância nos preços do leite e seus derivados, aguardando medidas que possam equilibrar essa equação.