Nos últimos três anos, o Paraguai atraiu mais de 60 operações de mineração de criptografia, totalizando mais de US$ 1,1 bilhão em investimentos. Na cidade paraguaia de Hernandarias, a presença de um data center de alta capacidade, composto por fileiras de supercomputadores, exemplifica o crescimento da mineração de criptomoedas no país.
Este setor emergente é impulsionado pela disponibilidade abundante de eletricidade verde no Paraguai. Ela é fornecida por suas três usinas hidrelétricas. Operado inteiramente com energia renovável, este data center foi construído pela Penguin Group, uma empresa local. A empresa está próxima à famosa usina hidrelétrica de Itaipu, uma das maiores do mundo, localizada no rio Paraná.
Este fenômeno é uma demonstração clara do potencial do país em se tornar um centro tecnológico na América Latina, conforme a visão da Penguin. A companhia também se expandiu para áreas como treinamento de inteligência artificial e serviços em nuvem.
Mineração cripto no Paraguai: desafios com mineradores ilegais
Apesar do crescimento, o setor de mineração de criptografia no Paraguai enfrenta desafios com a presença de mineradores ilegais. Estes operam de maneira clandestina. Eles desviam energia elétrica e geram prejuízos consideráveis para empresas como a própria Penguin Group. Em um país onde a corrupção é uma preocupação constante, a mineração ilegal de criptografia tem se proliferado. Isso resultou em operações policiais que, recentemente, desmantelaram uma fazenda de criptomoedas capaz de desviar US$ 60.000 em energia por mês.
O impacto da mineração ilegal é alarmante. Apenas este ano, foram apreendidos cerca de 700 computadores e um transformador em uma operação perto de Hernandarias. Em outra ação, realizada em Saltos del Guaira, as autoridades confiscaram 2.700 computadores e cinco transformadores. Essa foi caracterizada como a maior operação do tipo no país.
Perdas energéticas e implicações sociais
A estatal de serviços públicos do Paraguai, ANDE, admitiu que quase um terço de toda a energia que produz é perdida. Parte dessas perdas é atribuída à mineração ilegal de criptografia. Estima-se que as perdas totalizem aproximadamente US$ 3 milhões por mês. Este cenário é agravado pelo fato de que, em um país exportador de energia, 23% das residências ainda dependem de lenha ou carvão para cozinhar. Além disso, frequentes cortes de energia afetam a população devido à falta de investimento na infraestrutura elétrica.
Repressão e reações políticas
As autoridades paraguaias estão reagindo à situação. A ANDE, por exemplo, iniciou processos criminais em 71 casos. Ademais, apreendeu cerca de 10.000 computadores e 50 transformadores em suas operações. O vice-ministro de Mineração, Mauricio Bejarano, destacou a seriedade da “luta” contra o roubo de energia. Nesse sentido, o Senado aprovando uma nova lei que aumenta a pena para esses crimes para até 10 anos de prisão.
Contudo, empresas como a Penguin Group criticam o governo por não fornecer a previsibilidade necessária para o setor de mineração cripto no Paraguai, além de lamentarem um recente aumento nas tarifas de energia para consumidores de alto consumo, como os mineradores de criptografia. Jimmy Kim, da Câmara de Mineração de Ativos Digitais do Paraguai (Capamad), ressaltou que, embora a ANDE gere cerca de US$ 12 milhões por mês com a mineração de criptomoedas, a falta de segurança jurídica e o aumento de custos estão levando empresas a considerarem migrar suas operações para o Brasil.